Instalação: desenho a carvão, pó de pedra, quatro monitores de som, voz de Teresa Arêde 18’48”, esqueleto
Uma instalação visual e sonora: olhar o chão é olhar para a paisagem que acumula ruína sobre ruína e pensar em Angelus Novus. Esse anjo da história que nos olhava fixamente de frente e se afastava arrastado pelo vendaval do progresso. Já não nos olha! Somos nós, humanos, que o olhamos e vemos as suas costas como se não fizéssemos parte. Assumimos o lugar do que não destruiu, um lugar que ainda não é. Uma suspensão. Mas esse lugar que ainda não é, afinal já é a ruína em que vivemos: a nossa oíkos.
O desenho vai-se montando a partir de uma análise feita à nossa casa. Comecemos pelos lugares onde nós, humanos, exercemos o extrativismo ou nos apropriamos da natureza: essas paisagens analisadas frame por frame formam recortes e posteriores colagens em papel com as quais ‘brinco’ em cima da mesa – preciso de tempo…e ‘brinco’ novamente – talvez por defeito meu, vejo o desenho como um filme, um filme experimental, ao qual vou adicionando frames que se justapõem e constroem um possível mural.
A minha viagem ao Chile pôs-me em contacto direto com campos de batalha: territórios imensos de mineração e murais a cobrir paredes de grandes dimensões que representam a voz das comunidades locais. Estas vozes reincidem na problemática da defesa da sua casa, a casa planetária. O extrativismo desmesurado, tanto agrícola como de minério, tem vindo a dar provas de que não pode ser esse o caminho. A destruição do meio ambiente e seu desequilíbrio assim como das comunidades locais e povos indígenas faz-me lamuriar junto com a voz da Teresa Arêde. É um choro a duas vozes, uma voz que é expressa pelo desenho e a outra que vem do chão.
Ao visualizar estes territórios sofridos, cemitérios de mineiros e familiares, contaminação das águas pintadas de cores químicas que nada se assemelham às cores das águas que precisamos para viver, partículas que esvoaçam no ar sem sabermos se as podemos ou não inalar, ossadas que se misturam no estéril abandonado, matança de espécies que não encontram mais o seu habitat, tudo isto porque nós queremos continuar a alimentar a máquina do progresso com base nas mesmas estruturas. Mas se olharmos para o chão vemos que essas estruturas já são as nossas ruínas.
Quando a última árvore for abatida,
o último rio envenenado,
o último peixe pescado,
só então
tu vais perceber
que o dinheiro não se come.
(Provérbio Ameríndio)
Instalação com luz diurna